Que mundo é esse, senhoras e senhores?

A pergunta reverbera como um grito de alerta, um chamado à responsabilidade. Que mundo estamos construindo para as futuras gerações? Como adultos, somos os principais agentes na configuração do presente e na construção do futuro, mas será que estamos verdadeiramente conscientes das marcas que deixamos? Nossa dívida para com as crianças e jovens transcende os limites do que é material; é uma dívida moral, social, ambiental e emocional. E, infelizmente, ela cresce a cada dia.

O peso das nossas escolhas no presente

Crianças e jovens vivem hoje em um mundo repleto de paradoxos. Apesar dos avanços tecnológicos e científicos, que nos permitem alcançar um patamar de desenvolvimento humano sem precedentes, ainda enfrentamos velhos problemas que parecem insolúveis: fome, desigualdade, violência e preconceito. Como explicar para uma criança que, enquanto uns têm acesso a mais do que precisam, outros sequer possuem o básico para sobreviver?

As escolhas que fizemos no passado e continuamos a fazer no presente estão comprometendo a qualidade de vida das próximas gerações. Estamos consumindo recursos naturais em uma velocidade insustentável, promovendo desequilíbrios ambientais que impactam diretamente a vida dos mais jovens. A crise climática não é mais um problema "do futuro"; é uma realidade atual que afeta milhões de crianças em todo o mundo por meio de desastres naturais, falta de água potável e insegurança alimentar.

Os principais problemas enfrentados por crianças e jovens hoje

. Desigualdade social e econômica

Milhões de crianças ainda vivem na pobreza extrema, sem acesso a alimentação, moradia, saúde ou educação. Em muitos países, a pobreza infantil é uma barreira que impede o pleno desenvolvimento das potencialidades dos jovens.

A educação, que deveria ser um direito universal, é inacessível para muitas crianças em situação de vulnerabilidade. A falta de infraestrutura escolar, materiais didáticos e professores capacitados impede que milhões de jovens se preparem para o futuro. E, mesmo quando acessível, a qualidade da educação muitas vezes não é suficiente para competir no mundo globalizado.

. Crise ambiental

A devastação ambiental causada pelo desmatamento, poluição e mudanças climáticas afeta diretamente as crianças. Desastres naturais, como enchentes, incêndios florestais e ondas de calor extremo, forçam milhares de famílias a se deslocarem, destruindo a estabilidade emocional e o futuro de crianças que deveriam estar brincando e aprendendo.

O aquecimento global também ameaça a segurança alimentar, uma vez que altera os padrões de cultivo e compromete a produção de alimentos básicos. Em regiões já vulneráveis, isso resulta em fome e desnutrição infantil.

. Violência e insegurança

As crianças e jovens são as principais vítimas de conflitos armados, violência urbana e discriminação. Muitas crescem em comunidades onde o medo é uma constante, onde o som de tiros substitui o riso. Além disso, as crianças frequentemente são expostas a abusos, tráfico humano e exploração, especialmente em regiões onde os direitos infantis são negligenciados.

. Saúde mental

A pressão do mundo moderno sobre os jovens é imensa. A competição no ambiente escolar, o impacto das redes sociais, o isolamento e o medo constante do futuro têm levado a um aumento alarmante de problemas de saúde mental entre crianças e adolescentes. Depressão, ansiedade e até mesmo suicídio são questões cada vez mais presentes em faixas etárias que, no passado, não eram tão afetadas por essas condições.

. Falta de perspectivas para o futuro

O desemprego juvenil e a falta de oportunidades criam um ciclo de desesperança. Muitos jovens entram na vida adulta com medo, sem perspectiva de construir carreiras, famílias ou um futuro estável. Em um mundo marcado pela automação e precarização do trabalho, a competição por oportunidades é intensa, e quem não teve acesso a uma base sólida de educação e apoio fica para trás.

A responsabilidade é nossa

Não podemos ignorar o papel que desempenhamos na perpetuação desses problemas. Como adultos, somos responsáveis não apenas pelo mundo que habitamos, mas também pelo mundo que legamos. Essa responsabilidade deve nos levar a agir de forma urgente e incisiva para mudar essa realidade.

Educação transformadora

A educação deve ser vista como a principal ferramenta para empoderar crianças e jovens. Isso significa não apenas garantir o acesso universal à escola, mas também investir em métodos de ensino que promovam o pensamento crítico, a criatividade e a empatia. A educação deve preparar os jovens não apenas para o mercado de trabalho, mas para serem cidadãos conscientes, capazes de transformar a sociedade.

Sustentabilidade como prioridade

A preservação ambiental precisa estar no centro das nossas decisões. Devemos ensinar desde cedo às crianças a importância de cuidar do planeta, mas, ao mesmo tempo, precisamos dar o exemplo. Governos, empresas e cidadãos devem trabalhar juntos para reduzir o impacto ambiental e garantir um futuro mais equilibrado para todos.

Promoção da igualdade

O combate à desigualdade começa com políticas públicas eficazes que garantam acesso igualitário a recursos básicos. Saúde, moradia e segurança devem ser direitos de todos, não privilégios de poucos.

Apoio emocional e mental

É essencial que crianças e jovens tenham espaços seguros para expressar suas emoções e lidar com os desafios do mundo moderno. Isso inclui investir em serviços de saúde mental e promover campanhas de conscientização que desestigmatizem esses problemas.

Que mundo é esse, senhoras e senhores?

A pergunta nos convida a agir. Não podemos mais nos contentar em apontar os problemas sem buscar soluções. Cada um de nós, enquanto indivíduo, tem um papel a desempenhar. Precisamos nos perguntar: que legado queremos deixar? Que valores estamos transmitindo às próximas gerações?

A dívida que temos com nossas crianças e jovens pode ser paga, mas exige coragem, compromisso e mudanças reais. Exige que olhemos para além de nossos interesses imediatos e trabalhemos para construir um mundo onde as crianças possam ser crianças, e os jovens possam sonhar sem medo. O futuro está nas nossas mãos, mas pertence a eles. Que tenhamos a sabedoria de honrar essa responsabilidade.